quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Minha pretenção - Ricardo Gondim

Sou cearense, canhoto, corintiano e careca - a cronologia dos quatro "cs" é importante. Nos tempos de minha infância, os canhotos eram considerados semi-deficientes. Depois, descobri o preconceito contra os cearenses no sudeste mais desenvolvido do Brasil. Como corintiano, aprendi que cheiro a gambá. Crescentemente careca, percebo a patetice de quem escreveu, “é dos carecas que elas gostam mais”. Pobre coitado!

Desde cedo ouvi, “que menino mais desastrado”. Minha canhota não tinha boa coordenação motora. Mas nunca alcancei excelência em nada. Minhas notas escolares sempre foram medíocres. Jamais ganhei um campeonato de matemática. Nenhum professor leu uma redação minha como modelo para a classe. Passei em penúltimo lugar no vestibular e não me lembro de quase nada do que ensinaram de estatística, macro-economia ou direito.

Tenho pouquíssimos milagres para relatar como pastor. As igrejas que pastoreei não explodiram numericamente e não sobra dinheiro na tesouraria. Os meus sermões saem à custa de muito suor, estudo e, vez por outra, lágrimas. Minha comunidade é composta de gente comum, que luta diariamente contra as circunstâncias cruéis da sociedade brasileira; meu povo não prospera como ouço falar de outras igrejas.

Não tenho a pretensão de rivalizar com os inteligentíssimos mestres da teologia fundamentalista. Eles sempre dão um banho quando rechaçam os meus argumentos. Eu seria inapto para fundar qualquer escola de pensamento ou movimento religioso. Simplesmente não tenho cacife para tanto.

Estudo feito um condenado. Não tenho boa memória. Sou tímido em minhas relações pessoais. Nem que tentasse conseguiria ser a alegria da festa. Não sei dançar. Quando canto sou um desastre.

Prefiro ambientes intimistas. Alguns me têm por arrogante, na verdade sou introvertido. Descobri há pouco que joguei no lixo décadas por buscar os píncaros da glória humana.
Por exercer uma atividade pública, por expor abertamente os meus insights, por não me acomodar à minha mediocridade, fiz inimigos, gerei constrangimentos e acabei antipatizado por gente que nem conheço. Sei que também fiz adeptos e inspirei algumas pessoas. Aos meus inimigos, peço: - Tenham misericórdia de mim, não sou tão desequilibrado e perverso quanto dei a entender. Aos meus admiradores, imploro: - Não me idealizem, escondo uma tonelada de defeitos na alma.

O que busco? Tão somente oferecer-me como amigo e dar o ombro aos cansados. Quero dividir as minhas inquietações com os que duvidam e a minha esperança com os que sonham com um mundo melhor; sem estardalhaços, sem messianismos e sem falsidade. Vou passar por esta vida apenas uma vez e, mesmo atabalhoado, quero contribuir de alguma forma. Só isso...

Soli Deo Gloria.

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