terça-feira, 4 de maio de 2010

Avatar

por Thiago Bomfim
Este é um filme milionário que consumiu até o talo tudo aquilo que a indústria cinematográfica foi capaz de inventar. Mas não é só isso:  James Cameron vai além com uma história muito interessante e pertinente. É daquelas produções que me faz ter esperança de que o dinheiro de Hollywood não termina sempre numa lata de lixo para promover o estilo de vida que andamos mantendo.
A história aborda o tema batido do imperialismo, disfarçado num outro planeta e em outro contexto. Ainda assim, fica claro que a crítica é para o estilo belicoso com que algumas nações do norte conseguem as coisas.
Ainda mais interessante é a oposição clara entre expansão científica e conquista armada: os ambientalistas são sempre os chatos dos filmes, mas em  Avatar os nerds mandam.
O melhor foco desse filme está no que diz respeito à espiritualidade. Então vamos lá para mais um clichê de comentário que busca desvendar as metáforas transcendentais nas produções hollywoodianas:
Neoplatonismo - é uma corrente filosófica, cujo maior representante foi Plotino, em que se acredita na existência de um ser pelo meio do qual todas as demais coisas existem, como se fossem uma extensão dele. Chamam a este ser o Uno (pode ser chamado de Deus). Tudo se conecta ao Uno e existe por meio de sua luz. Na ausência dessa luz existe a escuridão (ou a falta de luz), tudo aquilo que não é iluminado. Em Avatar a presença do deus aparece em todo o planeta Pandora, exceto na parte em que os humanos implantaram o seu quartel general. No filme a divindade é a deusa Eywa. Ela se liga a toda floresta, espalhando sua luz entre os seres que lá vivem, inclusive nos humanóides azulados.
Espiritualidade primitiva – os fenômenos da natureza, a disposição dos animais, as forças que regem o planeta: tudo é creditado à deusa Eywa. Lembra bem os primórdios da humanidade, com a evidente diferença de que no filme admite-se que os fenômenos, mesmo que explicáveis, possuem sim uma conexão com um ser espiritual.
Vida após a morte – é bater na mesma tecla do Neoplatonismo que tem lá os seus pontos em comum com o cristianismo. Os nativos humanóides, Na’vi, acreditam que o ato de morrer não é nada além de retornar para a natureza a energia que se obteve dela. Ocorre também uma espécie de renascimento, num novo corpo, aperfeiçoado e conectado com Deus. Já ouviu esta história em outros lugares?
Conversão - o conhecimento científico é elevado como uma qualidade aperfeiçoada na raça humana. Contudo, a Doutora Grace Augustine,  que conduz as pesquisas com os humanóides, se vê obrigada a subjugar o seu conhecimento à uma experiência transcendental.
Há muito mais símbolos interessantes no filme, como o que está no nome do planeta (Pandora), mas deixo essa atividade para outros mais especializados nessas coisas de mitologia.
Fica uma recomendação que segui sem arrependimentos do Thomas McKenzie: vá ao cinema, se puder. Sua experiência assistindo Avatar em casa será muito inferior do que numa sessão em 3D.


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