domingo, 26 de outubro de 2008

Uma poesia sobre o Éden

Ricardo Gondim
"O Éden era pura poesia. Deus Fez ali um poema só de metáforas, sem palavras. O suor, que escoreu quando o Divino criava, fez-se rio, tingindo os prados de um verde ofuscante. A faísca de seus olhos fez-se luz, vestindo os dias de um claro virginal. O sopro do Senhor afastou a morte das portas do jardim, transformando as manhãs em alvoradas eternas. A primavera perene transformou as flores em rainhas, dando-lhes o poder de colorir o universo de esperança.

Porém, o paraíso desapareceu. O mundo desbotou. Um cinza pálido cobriu nossas almas. Homens e mulheres, ornados de mantos vermelhos, casaram-se com a morte. Anunciaram o nascimento de novos deuses. Todos ridículos, feios e tristes. O deus do fundamentalismo nunca aprendeu poesia. O deus do esoterismo não sabe dançar, fazer serenata ou adormece os seus filhos com canções de ninar.

Ah que saudades daquele jardim; útero paterno de nosso mundo. Ah que saudade daquela inocência; inspiração de meus versos simples. Ah que saudades daquele olhar materno; facho do meu amanhã.

No crepúsculo de uma tarde fria, sinto saudades daquela poesia primeira. Quando o sol se agacha em silêncio e a noite deita seu manto negro sobre as colinas. Deus põe sua mão sobre a minha e juntos rabiscamos mais alguns novos versos."

[a presença imperceptível de Deus, pag 41]

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